Com “jeitinho de interior”, cidade da Baixada Fluminense conta com trilhas, cachoeiras, ruínas e prédios históricos
Texto: Evandro Vianna e Rian Delaia
O município de Paracambi completa 64 anos de emancipação nesta quinta-feira (08). A cidade, que foi formada por trabalhadores de uma fábrica de tecidos inaugurada no século XIX, respira história e tem pontos turísticos naturais perfeitos para reunir a família aos finais de semana em uma viagem de menos de 2 horas de carro saindo da capital – ou através dos trens do ramal Japeri.
Responsável por trazer ciclistas de diferentes lugares para Paracambi, a carioca Cristiane Schiavo, que mora na cidade desde os nove anos de idade, conta que não trocaria o município por nenhuma outra cidade. Hoje, aos 37 anos, Cristiane, que é professora de Educação Física e uma das coordenadoras de um grupo de cicloturismo na cidade, o Paracambi Bike Trilhas. Ela, juntamente a todos que quiserem participar, fazem visitas aos lugares turísticos da região. E claro, tudo isso de bicicleta!
“É sempre um privilégio apresentar as belezas da nossa cidade”, comenta Cristiane, que diz receber cada vez mais visitantes no município por meio de seu projeto. “Temos vários pontos turísticos em Paracambi, há várias trilhas e lugares a serem explorados”, acrescenta a ciclista.
Desde 2017, Paracambi faz parte da região turística do Vale do Café, segundo o Mapa do Turismo do Ministério do Turismo. Essa área tem a sua história ligada ao ciclo do grão que dominava a economia nacional no século XIX. Apesar disso, Paracambi se diferencia da região, como pontua a turismóloga formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Nikita Crysan, no trabalho “A fábrica Brasil Industrial como símbolo histórico e atrativo turístico”.
“Talvez seja por conta de suas características voltadas mais para o Vale do que para o resto da região metropolitana, que o município tenha ganhado a denominação de “jeitinho de interior”. Porém, apesar de fazer parte desta região e de ter sido caminho durante séculos passados a todos aqueles que queriam alcançar as moradas das grandes fazendas dos barões do café, a própria história da cidade não se construiu sob os alicerces desse tipo de produção”, ela escreve.
Para comemorar o aniversário de Paracambi, criamos um roteiro com quatro paradas (além de uma rota especial para os mais aventureiros) para conhecer o que o município tem de melhor, desde trilhas e cachoeiras a ruínas e prédios históricos.
Veja o que fazer em Paracambi:
Fábrica do Conhecimento: Erguida em estilo vitoriano na segunda metade do Século XIX, o imponente prédio, popularmente conhecido como “castelo da fábrica”, abrigou a Companhia Têxtil Brasil Industrial até meados da década de 1980. Após o encerramento de suas atividades, uma grande lacuna foi aberta na cidade e, por muito tempo, temeu-se qual seria o destino do castelo da fábrica, que posteriormente se tornou um complexo educacional. O castelo da fábrica é o mais importante patrimônio histórico de Paracambi e, também, o principal cartão postal da cidade.
O que ver: vale muito a pena fotografar o castelo da fábrica e o bosque.
Nas redondezas: Bosque, Planetário, Brinquedoteca.
Como chegar: Rua Sebastião de Lacerda, S/N (Final da Avenida dos Operários)
Cachoeirão de Paracambi: Até pouco tempo, pensava-se que o Cachoeirão de Paracambi, localizado no bairro de Scheid, pertencesse ao município de Engenheiro Paulo de Frontin, por isso algumas pessoas ainda chamam erroneamente essa queda d’água de “Cachoeirão de Palmeiras da Serra”. Ao todo, são mais de cinco quedas d’água. A Cachoeira Menor deságua em um poção, onde se forma uma janela do céu e, a partir dali, o Cachoeirão de Paracambi.
Para chegar ao local, o visitante precisará atravessar uma trilha em mata fechada e requer certo cuidado em determinadas partes. As águas da cachoeira são claras e vêm de uma parte alta da Serra de Paracambi. Algumas pessoas praticam rapel no local, existem ganchos no topo do cachoeirão que permitem a prática do esporte.
O que ver: Cachoeira Menor, Cachoeirão de Paracambi, Janela do Céu
Nas redondezas: Pedra do Gavião, Engenheiro Gurgel, borda do Parque do Curió
Como chegar: O caminho mais fácil é seguir a RJ-127 até o açude da Brasil Industrial e, de lá pegar a estrada de Palmeiras da Serra. Atravesse o bairro em direção a Engenheiro Paulo de Frontin. Ao chegar na estrada principal (de terra), vire à direita, em direção à Saibreira e Scheid. Antes de chegar à Saibreira, é possível ver uma trilha à direita da pista, descendo. Siga por essa trilha até o Cachoeirão (aproximadamente 600 metros). É aconselhável ir com alguém que já conheça o local.
Pedra do Gavião: Conhecida há anos por moradores, a Pedra do Gavião foi “encontrada” por amantes do ecoturismo e se tornou uma das pedras mais conhecidas do estado do Rio de Janeiro. A partir dela, é possível observar a Estrada de Ferro Dom Pedro II, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo e Minas Gerais
Essa ferrovia é histórica, sendo inaugurada no final do século XIX pelo próprio Imperador. Além da ferrovia, a Pedra do Gavião permite observar parte da Serra de Miguel Pereira e o vale do Rio Santana.
Outro local interessante é o Mirante que você pode encontrar no próprio percurso, ele permite uma visão de 360º da região, o que permite observar, além da Serra de Miguel Pereira e o Vale do Rio Santana, parte dos municípios de Japeri, Paracambi e até mesmo, em dias mais abertos, a Serra das Araras.
O que ver: Pedra do Gavião, Mirante da Pedra do Gavião
Nas redondezas: Mirante do Gavião, Mirante de Engenheiro Gurgel, Sítio do Bem-te-vi, Igreja de Nossa Senhora do Bom Parto, Trem- Bão de Minas
Como chegar: A partir da RJ-127, no BNH de Cima, suba a Estrada de Engenheiro Gurgel. No fim da estrada, siga a pé beirando a linha de trem e, antes do túnel, entre em uma trilha à direita. Suba uma escadaria, após o Mirante do Gavião, desça aproximadamente 100 metros até a Pedra do Gavião.
Alambique Paracambicana: O Alambique Paracambicana é o mais antigo de Paracambi em funcionamento. Sua produção é 100% artesanal e não emprega nenhuma química, seja no plantio de suas roças de cana-de-açúcar, na fabricação ou na conservação.
Localizado às margens da Estrada Eduardo Pereira Dias, que no passado foi a Estrada de Ferro da Light, o Alambique Paracambicana é um dos pontos turísticos preferidos dos ciclistas.
Durante todo o ano os amantes desse esporte passam pelo Alambique para dar aquela provinha nos diversos sabores da pinga e, claro, comprar suas garrafas para levar para casa. Sobre a “provinha da bebida”, ela é gratuita!!! São diversos sabores, desde as envelhecidas até as saborizadas, como as de jaboticaba, banana, maracujá e a famosa Gabriela Cravo e Canela.
Ao menos duas vezes ao ano, o Alambique Paracambicana abre suas portas para o Paracambi Bike Trilhas, que realiza eventos ciclísticos na região. O difícil é sair da Paracambicana sem tomar umas…
O que ver: Alambique 100% orgânico
Nas redondezas: Torresmo do Zamboni
Como chegar: O Alambique Paracambicana fica na Estrada Eduardo Pereira Dias, 11.643, Ponte Coberta. É possível acessar essa estrada a partir da Rodovia RJ-127, no bairro de Lages, ou então a partir da Rodovia Presidente Dutra, a partir do trevo de Ponte Coberta.
Lagoão e trilha do Vale Perdido: um roteiro para quem tem disposição
Se você é aventureiro, tem uma bike legal ou muita disposição para longas caminhadas, Paracambi também reserva outros roteiros interessantes para você! Estamos falando do Lagoão da Serra de Paracambi e da trilha do Vale Perdido, mas para fazer essas duas trilhas é aconselhável ir com quem já sabe o caminho, pois em alguns locais não há sinalização nenhuma.
Da Praça da Fábrica, você deve pegar a estrada da Cascata, após a serra teremos uma bifurcação, dali deve-se pegar a estrada da direita em direção a São José, um bucólico bairro rural nas montanhas de Paracambi. A estrada está situada na borda do Parque do Curió, sendo uma área de amortecimento do parque, algumas minas d’água surgem nas curvas e o verde é predominante na paisagem.
No meio do caminho, há o Orquidário do Sabiá, onde é possível visitar e adquirir algumas plantas. Indo mais adiante pela Estrada de São José, haverá uma bifurcação, deve-se subir à direita até encontrar a trilha do Lagoão da Serra de Paracambi.
O lagoão está em uma das partes mais altas da Serra de Paracambi, nos limites com o município de Mendes. Um deck de madeira deixa o cenário perfeito para um amanhecer ou para um fim de tarde. Para quem vai de bike, é possível seguir por uma estrada rural dali até Mendes e Piraí.
Para chegar ao Vale Perdido, é preciso pegar a trilha que vai de Scheid até Mário Belo. Já próximo ao destino, há um mirante onde é possível admirar o Vale Perdido, uma parte de Paracambi esquecida no meio da Mata Atlântica, nos limites da cidade com Miguel Pereira. A trilha também leva às ruínas da estação ferroviária de Mário Bello, antiga estação Oriente, erguida em 1878.
ATENÇÃO: Essa trilha tem um nível de dificuldade maior, pois ela já está quase sumindo devido ao fato de ser pouco utilizada. É recomendável fazer esta trilha com alguém que já a conheça e levar água para se hidratar no caminho.