Por Evandro Viana
Algumas histórias não são encontradas em livros de pesquisa, mas passadas de geração em geração, de forma oral, por aqueles que a presenciaram ou por aqueles que ouviram de seus antepassados.
Essa transmissão de conhecimento entre gerações faz com que a história contada siga viva em seu local, fazendo parte da cultura de uma cidade, um estado ou até mesmo do país, como patrimônio histórico.
Assim como qualquer outro lugar do mundo, Paracambi tem suas histórias e lendas que muitas vezes são contadas apenas pelos moradores mais idosos que as presenciaram ou que souberam através de seus pais e avós.
Temos aqui três histórias interessantes que ainda permanecem no imaginário de muitos moradores e foram destacadas pela turismóloga formada pela UFF, Nikita Crysan da Silva Pires, no trabalho “A Fábrica Brasil Industrial como símbolo histórico e atrativo turístico”:
Os tijolos da fábrica
O centenário prédio que abrigou a Companhia Têxtil Brasil Industrial foi erguido a partir da segunda metade do século XIX, tendo sido utilizada mão de obra escravizada para sua construção. Segundo reza a lenda, os tijolos utilizados na construção do prédio tinham numerações provenientes do fabricante.
Durante a construção, os escravizados, por não saberem ler, colocavam os tijolos com numerações invertidas, viradas de cabeça pra baixo. Não se sabe se essa lenda é verdadeira ou não, mas antigos moradores de Paracambi que trabalharam na fábrica afirmavam que em algumas paredes ainda podem ser vistos os tijolos invertidos com sua numeração aparente.
O burro “inteligente”
Após os trens pararem de ir até o pátio da Companhia Têxtil Brasil Industrial, bondes passaram a circular do centro de Paracambi até a Fábrica, percorrendo toda a extensão do que hoje conhecemos como a Avenida dos Operários. Esses bondes eram de tração animal, e três burros eram revezados neste trabalho: Moleque, Coquinho e Preto.
O Preto era o mais inteligente desse trio. Todas as noites os burros eram soltos para pastar e dormir, ficando soltos até de manhã. Nas primeiras horas do dia, os entregadores da padaria deixavam os pacotes de pão nas janelas das casas da Avenida dos Operários, que nessa época não tinham muros e nem cercas.
A vingança da Santa
Logo após essa entrega, o Preto passava de casa em casa recolhendo e comendo os pães. Não raras vezes, os moradores levavam sustos, pois ao abrirem as janelas davam de cara com o Preto. Para não ficaram sem seus pães, os moradores eram obrigados a acordar mais cedo e apanhar os pães assim que o entregador passasse.
Era costume, na Cia. Têxtil Brasil Industrial, liberar os funcionários uma vez por semana para assistirem uma missa na igreja sagrada à Nossa Senhora da Conceição, no topo de uma colina na entrada do bosque da empresa.
Certa vez, devido a uma necessidade de produção, os funcionários não foram dispensados para o ato religioso. Naquela semana, durante uma forte tempestade, uma faísca foi lançada sobre o algodão estocado, o que deu início a um grande incêndio que quase destruiu completamente o prédio principal.
Como a empresa tinha seguro, foi possível a reconstrução da fábrica que, por dois anos funcionou parcialmente. Se foi vingança da Santa ou pura coincidência ninguém sabe, mas que os fatos narrados são verídicos… isso é o que dizem.