Hoje na direção de duas escolas de dança em Japeri, vizinha da nossa cidade, o coreógrafo Everson Bruno da Silva (45), ou apenas Dy, como é conhecido, deu seus primeiros passos de dança em Paracambi. Foi em 2001, numa escola do Jardim Nova Era, que a sua professora de Educação Física viu nele um potencial e o incentivou a correr (ou melhor, dançar) atrás dos seus sonhos.
“Para um jovem negro dançar balé, o preconceito era muito grande. Na família mesmo as pessoas desaprovavam, chamavam de vagabundo”, diz ele, lembrando sua adolescência, período em que a mãe, empregada doméstica, passava dias no trabalho e só voltava para casa nos fins de semana.
Cinco anos depois, quando o prefeito André Ceciliano criou, em 2006, a Companhia de Ballet na Fábrica do Conhecimento, Dy ganhou ainda mais ritmo. “Foi nesse projeto que eu me profissionalizei e comecei a trabalhar”, ele conta.
Dy passou de aluno a monitor e, a partir de 2012, começou a atuar no ArtStreet, uma extensão da Companhia de Ballet municipal que ajudou a lançar talentos da dança de rua descobertos por meio do projeto de Ceciliano.
Para ele, essa foi uma “época de ouro”, já que as aulas eram ministradas na Fábrica do Conhecimento, localização que permitia uma ampla articulação com o Instituto Federal do Rio Janeiro (IFRJ), atraindo mais pessoas devido ao alto nível das apresentações feitas em Paracambi e outras cidades.
“Os espetáculos melhores, as participações em grandes competições e a qualidade nos ensaios fizeram o ArtStreet ter uma lista de espera para as aulas”, ele diz.
O projeto, no entanto, foi encerrado em 2020, durante as eleições municipais, quando Dy foi exonerado por “apoiar um candidato da oposição”. Ele até tentou voltou a se apresentar na cidade onde nasceu, mas teve sua candidatura negada nessas oportunidades.
Da cidade vizinha, ele viu o projeto que transformou a sua vida perder o ritmo. “A entrega gratuita de uniformes para os alunos do projeto acabou quando o prefeito André saiu da cidade, as turmas atuais têm a metade do que tínhamos e os espetáculos perderam a qualidade. Saímos do segundo maior projeto municipal de balé para turmas praticamente às moscas hoje em dia”, lamenta.
Dy acredita que a decadência do projeto, que já foi referência, é explicada pela falta de investimentos e, agora, sonha em voltar a ver uma Paracambi feita por quem tenha amor por ela.