Moradores denunciam problemas no repasse do Cartão Recomeçar, que começou a ser entregue apenas no mês passado
Seis meses depois das chuvas que alagaram a cidade de Paracambi, deixando cerca de 300 pessoas desabrigadas, a Prefeitura ainda não prestou contas dos R$ 972 mil repassados pelo Governo Federal para ações de resposta. A portaria para repasse do dinheiro foi publicada pela Secretaria Nacional de Defesa Civil em 26 de fevereiro, logo após as chuvas que caíram na cidade entre os dias 21 e 22. O prazo para aplicação do recurso se encerra em dois dias, no dia 24 de agosto.
O repasse foi anunciado depois da instalação de um gabinete de crise, no dia 23, para socorrer todos os municípios atingidos na Baixada Fluminense. Em Paracambi, uma das primeiras cidades a receber os recursos, as ruas foram tomadas pela água, que invadiu casas e lojas, destruindo pertences e mercadorias. Em algumas residências, a água chegou a alcançar dois metros de altura.
Uma das atingidas foi a vendedora Jéssica Bertolot, que montava sua barraquinha para vender lanches na calçada de casa no momento em que a chuva começou. Ao perceber a força e a velocidade com que a água subia, Jéssica correu com seu filho, de 4 anos, e pegou apenas o material escolar dele. A barraquinha que Jéssica montava, a correnteza levou e a venda dos lanches, que era sua maior fonte de renda, não existe mais.
“Tento vender outras coisas, porque vendedora nunca deixa de ser vendedora”, afirma a moradora de Paracambi ao falar da necessidade de suprir a ausência do seu empreendimento.
Andrezinho mobilizou gabinete
A recuperação da cidade aconteceu, principalmente, através das ações de moradores e organizações da sociedade civil que articularam a retirada de entulho e a distribuição de água, alimentos, itens de higiene e roupas. Quem também fez parte do esforço para mobilizar auxílio foi o próprio Andrezinho e sua equipe na Alerj, onde exerce mandato de deputado estadual. Eles passaram dias indo às casas e as ruas mais afetadas para ajudar na limpeza das casas.
Uma das pessoas que contou com a ajuda do Andrezinho foi o Nei, morador do Jardim Nova Era. Ele conta que estava auxiliando outras pessoas a retirar os escombros quando tomou um choque ao encostar na fiação, caindo na rua. “O Andrezinho foi um dos primeiros a chegar quando eu caí, inclusive ele ligou para os bombeiros e para o hospital para poder me socorrer com urgência”, conta Nei.
Ele conta que Andrezinho conseguiu articular a dragagem dos rios da cidade, enviando máquinas para a cidade pelo programa Limpa Rio, que depois foram retiradas a pedido da atual gestão. “Ela correu para tirar, para não deixar limparem o rio”, denuncia o morador.
Mas a preocupação do Andrezinho é também com o futuro: além de prometer que, depois de eleito prefeito, vai dragar todos os rios da cidade nos primeiros dias de governo, ele também quer implementar em Paracambi o conceito de “cidade-esponja”. Esse conceito se baseia em iniciativas para gestão da água das chuvas e controle de enchentes.
Distribuição de auxílio enfrenta problemas
Para auxiliar as famílias que perderam tudo durante as chuvas, o governo do Estado criou o Cartão Recomeçar, que tem o valor de R$ 3 mil e auxilia a população em vulnerabilidade a superar. Pago em parcela única, como cartão de débito, pode ser usado para compra de material de construção, eletrodomésticos da linha branca e móveis.
O repasse do Cartão é de responsabilidade da administração de cada município. Mesquita, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias começaram a distribuir o benefício em abril, mas Paracambi só em julho.
No perfil do Instagram da Prefeitura de Paracambi, onde são divulgados os beneficiários do auxílio, moradores denunciam que várias famílias afetadas pelas chuvas ainda não tiveram direito ao Cartão Recomeçar.