Capital do estado foi a primeira cidade do país a receber imigrantes chineses, no século XIX
O Estado do Rio pode ter um dia em seu Calendário Oficial para celebrar a cultura chinesa. Proposto pelo deputado estadual Andrezinho Ceciliano (PT), o projeto de lei 2.259/23 protocolado esta semana na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) propõe que o Dia Estadual da Cultura Chinesa seja comemorado anualmente em 1º de outubro, data da fundação República Popular da China, em 1949.
A ideia por trás da data comemorativa, explica o deputado, é incentivar a troca de culturas, tradições, ritos e costumes pertinentes aos dois países, estreitando os laços de amizade e conhecimento entre Brasil e China.
“A cultura chinesa remonta à Antiguidade e é marcada por várias tradições e estilos estéticos. A China possui uma importante diversidade cultural, pois apresenta um grande crescimento da economia, na atualidade, atraindo olhares de pessoas do mundo todo, que buscam informações sobre seus aspectos culturais. Na atualidade, este país mescla a cultura tradicional com a modernidade”, explica Andrezinho.
A Assembleia Legislativa já aprovou o Dia Estadual da Amizade China-Brasil, criado através da Lei 8.251/18. A data é comemorada anualmente no dia 8 de agosto.
Cidade do Rio foi a primeira a receber os imigrantes
A cidade do Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a receber imigrantes chineses, ainda no século XIX. Entre 1812 e 1819, cerca de 300 deles foram trazidos de Macau, na China, pelo governo real português, a fim de iniciar o plantio de chá, que não foi bem-sucedido.
O pintor alemão Johann Moritz Rugendas registrou a plantação chinesa de chá no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Uma estrada foi aberta ligando o Jardim Botânico ao Alto da Boa Vista por mão de obra chinesa. Em homenagem a esses trabalhadores, o prefeito Pereira Passos mandou construir em 1903 a Vista Chinesa, no Parque Nacional da Tijuca, um mirante que oferece uma das mais bonitas vistas da cidade.
A partir de 1870, com o fim do tráfico negreiro, os chineses começaram a ser trazidos para o Brasil para substituir o trabalho dos negros escravizados. Além de trabalhar nas fazendas, eles também trabalhavam nas obras de construção de estradas e ferrovias.
Até, 1949, a migração chinesa para o Brasil aconteceu por conta própria, através de indivíduos que deixavam o país Natal com o intuito de voltarem ricos para casa. A partir de 1950 os imigrantes chineses começaram a trazer as famílias para o Brasil, onde os filhos também acabaram se casando com brasileiros.
“A grande mudança na população chinesa no Brasil começou nos anos 1980, quando começaram a chegar os migrantes da China continental”, diz o professor. “Eles trabalhavam no comércio, nas lanchonetes e restaurantes. Desde 1998 muitos se dedicam ao comércio popular”, explica o professor Shu Chang-Sheng, do departamento de línguas orientais da USP.
Contribuição chinesa para o comércio e para a gastronomia
Se, no início, a maioria dos imigrantes chineses era cantonesa (oriunda da região Sul do país), a partir da Revolução Republicana na China, em 1911, começaram a chegar também os imigrantes vindos da cidade de Qingtian, na província de Zhejiang, que se dedicaram ao comércio dos produtos importados.
Com o tempo, esses ambulantes se estabeleceram em bazares. Na Rua do Ouvidor, no centro do Rio, dois amigos abriram uma loja para vender toalhas bordadas. O negócio deu tão certo que logo eles passaram a comercializar, também, artigos de porcelana, lenços de seda e artesanato em geral.
De acordo com o historiador Shu Chang-Sheng, em 1925 outros três chineses abriram um restaurante-pensão na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca. Em 1932, surgiram mais um restaurante na Rua México, 44 e outro na Praça da República.
Em 1926, Wang Yi-Tsong veio para o Rio, depois de 11 anos morando em Porto Alegre, onde chegou via Argentina. Foi só em 1937, depois de muito trabalho duro, que ele abriu o restaurante Camões, na Praça Tiradentes, 47, logo reconhecido como um dos mais populares do centro da cidade.
Em 4 de outubro de 1919, cerca de cem imigrantes se reuniram para fundar o Centro Social Chinês do Brasil, que existe até hoje, situado na Rua Gomes Freire, 753, no Centro, e que é fortemente ligado ao governo de Taiwan. Além dele, existe a Associação Chinesa do Rio de Janeiro, fundada em 1984, que fica na Rua Gonçalves Crespo, 450, na Tijuca.